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Burnout das manualidades

Eu estou aqui com a Bem Mimosa tem 6 anos. Tantas outras bordadeiras e outras pessoas da minha geração devem ter no máximo 10 anos, nesse formato mais "moderno" do trabalho manual. E quem optou pelo caminho de produzir para venda tem enfrentado tempos difíceis e decepcionantes.


E são vários fatores que desgastam o processo, pensando que a grande maioria entrou nesse caminho para reduzir o ritmo, ou por necessidade de fugir do trabalho convencional, ou por desemprego e necessidade de renda. Primeiro são os meios de venda, temos as redes sociais que pra mim, que comecei tem alguns anos, foi o caminho perfeito, mas hoje talvez seja menos efetivo que deixar cartões nos comércios e esperar que alguém pegue e decida olhar seu material. Segundo é a carga de trabalho, conforme o negócio criativo vai tomando forma, é necessário deixar as áreas muito mais profissionais, meios de atendimento, contabilidade, marketing, conteúdo, fotografia, embalagem.

Então uma única pessoa que achou que ia reduzir o ritmo de vida e trabalhar com afeto se vê equilibrando milhões de coisas pra fazer. Vejo muitas pessoas trabalhando até tarde da noite porque durante o dia tem que realizar atendimento, sair para comprar insumos, produzir fotos com luz natural, gravar vídeos, fazer as contas, cobrança, envio de pedidos. E então o tempo que resta para realmente desenhar, preparar o material e trabalhar efetivamente criando, é no fim do dia, sem energia ou prazer por conta do esgotamento mental.

Depois temos a enxurrada de informação que recebemos o tempo todo que muitas vezes nos tiram do caminho que planejamos, nos colocam em dúvida, criam tanto ruído que é desesperador. Vemos novas ideias que queremos fazer, vemos novidades que queremos testar, vemos alguém novo no mercado que estourou com um produto tão simples e tão incrível.

Em seguida temos um detalhe importante, porem muitas vezes terrível, que é o fator humano. Começando por pessoas copiando trabalhos autorais, uso de imagem que se você aceita e acha normal. Mas para quem cria, estuda e desenvolve arte do zero, é revoltante, e ainda mais ter que lidar com as respostas recebidas de quem copia. E então o outro fator humano, principalmente pra quem trabalha com encomendas, é o atendimento ao consumidor. Tenho um grupo de bordadeiras e dividimos algumas frustrações e já poderíamos escrever um livro com tanta história absurda de clientes. Dos que reclamam que não foi respondido em 5 minutos, dos que querem um bordado em 24hs todo personalizado e com envio pelos Correios, dos que querem 100 bordados para presentear clientes em 7 dias e os que ficam trocando ideia por um bom tempo pra gerar um orçamento e no final não respondem mais.

E então chegamos nas feiras, uma relação de amor e ódio, felicidade e medo, prazer e desespero. Sim, tudo junto. Feira é incrível, quando além de se pagar quando as vendas são boas, geram novos contatos, seguidores e clientes fiéis. Mas pra ser sincera, poucas são. Começando pelo valor para o expositor. Feira pra ajudar pequenos empreendedores com valores de aluguel de shopping, juros altos, e ainda querem o serviço de divulgar, fazer lives, convites, curtir e comentar cada postagem. Depois que nada garante que aquela feira será realmente boa, com fluxo alto, dependendo do período do mês as pessoas vão somente pelo passeio, mal gastam com alimentação, ou então um final de semana chuvoso não tira ninguém de casa para visitar uma feira. E então o preparo para os produtos que irá levar, os itens que podem estar em promoção, as novidades, criações novas, criações temáticas. Tem feira que as peças mais caras saem com tranquilidade e aquelas baratinhas ficam encostadas, tem outras que zera o estoque de peças em conta. Não tem bem como saber, então a gente se prepara para qualquer cenário. E pra não me prolongar, mais do que já estou, não vou nem falar nas caras, bocas e comentários que somos obrigadas as fingir normalidade e sorrir, porque a educação passa longe.

Mas é basicamente isso, se você conhece alguém das manualidades, dá um abraço nessa pessoa, tente ajudar mesmo sem comprar nada, seja aquela pessoa que ergue o trabalho de graça, só de comentar, compartilhar e indicar pra alguém.

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