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Para bloqueio criativo



Tem dias que tudo que eu faço parece uma porcaria. Acho feio, acho torto, acho que as cores não estão combinando, tenho certeza absoluta que o resultado final vai seguir nessa linha. Ou ainda, dias que todo ponto parece dar errado, nó francês nem se fala. A linha embola, dá nó no meio, arrebenta, estoura a trama.

É claro que de vez em quando é verdade, e eu forço um pouco, mas acabo abandonando porque não vai valer a pena o tempo que irá me consumir, nem a paciência. Mas muitas vezes é só aquele dia de bloqueio mesmo, dia que a energia tá esquisita. O desenho parece horrível, ou parece legal, mas então não acho as cores certas, ou o quando vai para o tecido e perde o sentido dentro do bastidor ou moldura.

Sou totalmente a favor da gente se conhecer o suficiente, entender os limites nos dias da TPM, entender os limites em meio ao caos no mundo, na saúde, na política, na vida. Saber que tem dias que o melhor mesmo é respirar, fazer atividades mais mecânicas, organizar a mesa, fazer a limpa nos materiais, ajeitar a planilha, responder mensagens ou então não fazer nada de trabalho. Eu sei quando não vai adiantar nada eu forçar minha cabeça nas agulhas, não vai adiantar eu abrir 20 abas para me inspirar e rabiscar qualquer coisa sem sentido. Mas sei muito bem quando na verdade eu só estou bloqueada, travada nas ideias, travada no trabalho.

Para esses dias que eu sei que o problema sou eu, sei que preciso trabalhar em algo prático. Eu defino um projeto simples, básico, rápido e que eu sei que vende. Geralmente um ramo de folhas com uma cor no máximo duas. Podem ser folhas simples, miudinhas, grandes e com mistura de pontos, mas sempre um ramo de folhas. Se você acompanha meu trabalho já deve ter visto alguns. Pra mim, é quase mecânico, não exige muito da minha criatividade, da minha inspiração, do meu criar. Faço sem pensar muito, sem questionar. E em poucas horas tenho uma peça pronta. Posso fazer o acabamento, precificar e deixar pronta para fotografar e colocar na loja.

Esse meu movimento parece tirar uma pedra do meu sapato, secar a meia molhada sabe? É tirar algo que tá incomodando no seu movimento, você consegue se mexer normalmente, mas não tá certo.

A partir daí flui. Pra mim, pode ser que eu decida fazer algumas outras peças simples. Pode ser que eu decida por uma ideia maluca e trabalhosa. Pode ser que eu retome um projeto que abandonei odiando. Pode ser que eu tome coragem para ir estudar algo que estava adiando.

É claro que para cada um pode ser uma ação diferente. Pode ser que seja parar tudo, organizar a mesa, gavetas, papéis, limpar, passar um pano, acender uma vela e começar. Pode ser que seja sair de perto da mesa e sair pra fazer uma caminhada por algumas quadras. Pode ser que seja largar o trabalho e fazer alguma tarefa de casa, cozinhar um bolo, colocar roupa para lavar, arrumar a cama e assim por diante. Mas é importante se conhecer, saber seu limite, saber colocar limite. Não acho que qualquer coisinha a gente deva parar tudo, dar um tempo, se recolher. Acho que muitas vezes temos que focar, se esforçar um pouco e encarar o trabalho de frente.

Mas o mais importante e conhecer nosso corpo e mente, saber ajustar ou saber mudar o foco. Saber quando é hora de desconectar ou reconectar. Quando é hora de ser artista livre e quando é hora de ser chefe e mostrar metas, agenda, planilha e sentar na cadeira pra trabalhar.

É fácil e funciona sempre? Não! Mas a partir do momento que eu descobri meus caminhos, entendi meus momentos, ficou mais nítido minha forma de trabalhar.

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