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A rotina não é conteúdo

Pode ser um conteúdo maquiado, mas não é diário sabe? A rotina de trabalho é repetitiva, demorada, não tem encanto ou beleza sempre. Novidade então, é raro. Mas o conteúdo precisa ser diário. Eu posso roteirizar e um dia de gravar minha rotina. Preparando meu café, ligando meu computador e organizando a mesa, fazendo listas, desenhando, bordando, atendendo, arrumando planilha, molhando plantas. Rotina. Pode ficar um conteúdo lindo, que vai demorar um dia todo para gravar, depois mais algum tempo para editar. Será visto por algumas pessoas, provavelmente pela metade durante um dia e então será perdido na avalanche de conteúdo.

Posso roteirizar um vídeo trabalhando em uma peça nova, vai levar mais tempo pra eu trabalhar nessa peça porque preciso ficar parando pra gravar, arrumar luz, tripé, ângulo. Eu não faço produção em série, o bordado é demorado e trabalhoso. É um processo lento que vai contra essa produção de conteúdo constante.



Com todo esse pensamento, cheguei a conclusão que não quero produzir conteúdo, quero produzir peças lindas para enfeitar a casa das pessoas, ser presente em espaços e fazer sorrir sempre que uma peça minha é observada. Conteúdo é pra ser visto em 30 segundos e esquecido, talvez compartilhado com algumas pessoas próximas pra sorrir nesses 30 segundos com você, mas depois disso, vamos ao próximo conteúdo, esse já foi visto.

Produzir conteúdo esgota com meu tempo, com minha criatividade. Ter que acompanhar uma plataforma ou duas porque elas estão ditando que eu preciso estar ali, criando vídeos interessantes, rápidos e virais gratuitamente, tem tirado meu prazer por produzir minha arte entende?

Conteúdo é instantâneo e descartável, não quero que meu trabalho seja. Meu trabalho é físico e palpável. Não consigo contabilizar o tempo filmando e postando e colocar na conta final de uma peça (talvez se ela viralize e vire item de desejo exclusivo e invejável? com certeza, mas só com sorte).

Se eu gravar todo dia um vídeo de rotina, serei repetitiva e desinteressante. Nossa vida não é interessante o tempo todo. Por isso gostamos tanto de acompanhar viagem alheia, fofoca, ver vídeos de lugares longe de casa, é novidade.

Sem falar que nem sempre nos sentimos a vontade ou carisma suficiente para gravar vídeo, mesmo que não apareça nosso rosto. As vezes só queremos finalizar um trabalho. As vezes só queremos trabalhar com foco sem precisar pegar no telefone pra conferir a entrega do último vídeo e responder comentários.

Mas para as redes, nesse momento, tudo é conteúdo, temos que produzir o tempo todo. Do acordar ao se deitar. Do café pra acordar ao chá de antes de dormir. Da decoração da casa ao livro que está na mesa de cabeceira. E sim, conteúdo superficial, banal. Se tentar aprofundar muito, sem politizar, aí muita gente perde o interesse em você e a plataforma nem entrega.

E não me leve a mal, eu gosto de gravar vídeos, gravei coisas bonitas em uma viagem rápida de fim de semana no litoral esses dias e postei como inspiração, porque acho que isso inspira quem assiste. Gosto de produzir um vídeo pra tentar dar o efeito do meu trabalho que uma foto não transmite, que só daria para sentir realmente ao vivo. Mas eu não viajo todo final de semana, não finalizo uma peça todos os dias.

Então eu repito, quero produzir peças bonitas para enfeitar suas casas. Quero produzir um trabalho que perdure por muito tempo. Quero ser lembrada na parede das pessoas, nas estantes, quero que meu trabalho sirva de presente para alguém especial. Não quero ser 8 segundos de tela, não quero ser um video compartilhado pra mais 8 segundos de tela e que em seguida nem vão lembrar meu nome e o que atraiu naquele vídeo.

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